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Jovem Português descobre as suas
raízes aristocrátitas Luso-Britânicas!

Texto de: Adelina Pereira
Adiaspora.com

Adelino José Dias Barreto, mais conhecido entre os amigos por Joe Barreto, é um jovem português que, como muitos outros, optou por se radicar na Inglaterra, no distrito de Norfolk. Até aqui nada de extraordinário!

É que o percurso de vida de Joe Barreto é no mínimo, peculiar e fascinante por este encerrar diversas coincidências que nada têm de coincidentais! Na verdade, Joe Barreto simplesmente personifica aquela irrefutável verdade universal que professa ser a vida uma trajectória cíclica, regressando tudo e todos ao ponto de partida, de onde se projectam para o patamar evolutivo seguinte na infinita espiral ascensional existencial. Além do mais, a sua estória contém algo de arcano, com o mar e a maresia a traçar o seu fio condutor.

Nascido em Viana do Castelo em 1975, cidade nortenha de longa tradição marítima, partiu com tenra idade para a Nova Escócia, no Canadá. Naquele país viveu e estudou, tendo-se formado em engenharia naval pela Dalhousie University. Irrequieto e aventureiro, mais tarde ingressou nos Canadian Sea Cadets. Amante de novos e exigentes desafios, decidiu depois regressar a Portugal por uma temporada, onde enfrentaria os rigores da vida militar carreirista neste país. Aqui conheceu a jovem e simpática Carla, com quem mais tarde viria a casar.

Joe Barreto

Passado algum tempo, resolveu regressar ao Canadá novamente, onde trabalhou no sector da construção naval. Entretanto, movido por saudade da Velha Europa, Joe decidiu aceitar uma prometedora oferta de emprego numa empresa internacional do ramo, o que veio a colocá-lo, mais uma vez, no norte de Portugal, nos estaleiros de Viana do Castelo. No âmbito das suas novas funções, funda os escritórios da empresa em Londres, donde parte em trabalho, num constante vaivém, para diversas localidades europeias. Neste interregno, defrontou-se com um sério contratempo, tendo sofrido um gravíssimo acidente de trabalho nos estaleiros no Reino Unido, onde então trabalhava, e que o manteve paralisado da cintura para baixo durante meses a fio. Ao recuperar a mobilidade, Joe decidiu regressar à Inglaterra em busca de um lugar tranquilo onde pudesse refortalecer e criar os seus dois filhos pequenos de forma salutar. Assim se iniciou um novo e aliciante capítulo na sua vida...

Disse-nos Joe que andou a peregrinar à toa pelas zonas rurais de Norfolk à procura do lugar ideal onde viver, enquanto a sua família aguardava em Portugal ordens suas para partir. Certo dia, foi parar a Watton, uma pequena e pacata cidadezinha rural. O que o fez resolver radicar-se neste encantador recanto foi o facto de que, ao deambular pelas suas ruelas, os seus habitantes o terem cumprimentado de forma espontânea, manifestando uma simpatia e abertura que não é, de todo, usual na grande e azafamada capital britânica, com a qual Joe estava mais familiarizado. Não tardou muito para que a sua esposa, Carla, e os seus dois filhotes se juntassem a Joe, com o intuito de encetarem uma nova e empreendedora vida em Watton. Desde então, Joe Barreto tem sido um agente activo e interveniente na comunidade que o acolheu. Presentemente, encontra-se imerso num Doutoramento na área da Psicologia. Fundou, com a ajuda da sua empenhadíssima esposa Carla, uma organização de caridade, SIMPLE, cuja acção incide na defesa e na prestação de apoio e serviços às minorias étnicas da área de Norfolk. Mais, ainda encontra tempo para trabalhar, em regime de tempo parcial, na área do aconselhamento junto dos toxicodependentes, alcoólicos e viciados no jogo. Joe Barreto revela, na sua postura pessoal e em tudo em que se envolve, um forte pendor humanista e filantrópico.

Quis o destino que certo dia, Joe fosse contactado por uma historiadora local, tendo esta lhe solicitado um encontro num parque nas imediações. Em Brandon Park, por entre dezenas de pessoas ali presentes, a historiadora logo o reconheceu, facto este que Joe achou algo estranho. Ao inquirir, curioso, como a historiadora o logrou identificar na multidão, esta prontamente lhe respondera que as suas feições e a sua fisionomia se assemelhavam, em muito, às do último Barão de Bliss Barreto; que ali vivera em tempos transactos. Embora tivesse conhecimento vago da sua ancestralidade britânica, através das estórias relatadas na infância pelos pais, Joe Barreto encontrava-se despreparado para um tão próximo e inesperado encontro com o seu passado familiar, nestas serenas e bucólicas paragens da Velha Albión. Muito menos esperava Joe descobrir os inegáveis paralelismos e semelhanças existentes entre a sua trajectória de vida e a de Henry Edward Ernest Victor Bliss, um seu antepassado fidalgo inglês, que foi o último a utilizar por direito o título nobliástico português, Barão de Bliss Barreto.

A saga da família inglesa Bliss Barreto remonta ao século XIX e a Henry Aldridge, filho de um James Aldridge, cujo apelido se pensa ser a forma anglicizada do nome “Alreyo” de proveniência portuguesa.

Nascido em Buckinghamshire em 1818, Henry Aldridge, com o decorrer dos anos, adoptou o apelido Bliss ao herdar de um seu tio vários títulos hereditários - entre os quais o de Lord of Brandon e Suffolk – assim como as respectivas propriedades e terras. A esta complexidade nobliária, aduziu-se ainda o facto de Henry ter herdado o título e as herdades do seu primo português, o Barão de Alreyo. Por decreto emitido em 1855 por D. Pedro V, por mão do seu pai e Regente de Portugal. D. Fernando, foi-lhe permitido apresentar-se como o sucessor do Barão de Alreyo, utilizando o título de Barão de Bliss. Mais tarde, Henry veio a herdar também as propriedades do Coronel Carlo António Barreto, tendo a partir dessa data assumido o apelido do seu benfeitor espanhol. Presume-se que o Coronel Barreto se tenha destacado nas campanhas militares das Guerras Peninsulares contra as forças Napoleónicas. Por decreto real da Coroa Portuguesa, foi autorizada, em 1873, a transferência da designação do título de Barão de Bliss para Barreto, passando, a partir de então, os titulares do baronato português a serem conhecidos por Barões de Bliss Barreto.

Joe Barreto na companhia de sua esposa, Carla

Em 1868, Henry esposou Catherine Eliza Baker, com quem teve três filhos, Henry Edward Ernest Victor, Harold António e Carlota Alberta. A memória da família Bliss Barreto é ainda muito respeitada nos dias que correm devido à avultada obra sociocultural que realizou em prol das populações locais em Suffolk e nas redondezas.

Mas é a insólita e invulgar estória de Henry Edward Ernest Victor, o último Barão de Bliss Barreto, que apresenta extraordinárias similitudes com a do nosso jovem Joe Barreto! Nascido em 1869 em Buckinghamshire, e possuidor de espírito irrequieto e de um grande amor pela aventura e pelos mares e pela pesca, o Barão de Bliss Barreto partiu, em 1920, para as Caraíbas, deixando para trás o conforto do lar e a sua jovem esposa. Consequência da poliomielite que contraíra na infância, em 1911, aos 42 anos de idade, o Barão de Bliss Barreto já se encontrava imobilizado e incapacitado da cintura para baixo. Mas o seu handicap físico não o impediu de embarcar naquela que seria a sua maior e última aventura: uma longa peregrinação pelos lugares e mares das Caraíbas, na zona das Bahamas e Trinidad, onde viveu seis anos no seu iate, Sea King II. Já gravemente debilitado por um intoxicação alimentar, Bliss Barreto resolveu navegar até à costa das Honduras Britânicas (hoje Belize), onde atracou o seu iate a 14 de Janeiro de 1926. Embora já moribundo, e sem ter alguma vez pisado solo hondurenho, o último Barão de Bliss Barreto ter-se-á apaixonado por aquele país e pelas suas gentes simples, modestas e hospitaleiras. No mês seguinte, consciente que a morte não tardava em chegar, elaborou, abordo do seu iate, o seu último testamento, no qual estabeleceu um Fundo Fiduciário Permanente de £1.000.000, cujos rendimentos se destinavam a projectos para o benefício de Belize e da sua população, exceptuando, todavia, a construção de escolas normais, (projectos de escolas agrícolas e de formação profissional podiam ser contemplados), igrejas e salões de baile. A 9 de Março de 1926, o Barão Bliss Barreto faleceu, a bordo do seu iate, Sea King II, nas tropicais águas costeiras de Belize.

Ao longo dos anos, foram muitos os projectos de cariz sociocultural que usufruíram de apoios disponibilizados pelo Bliss Trust, entre estes o Centro Bliss para as Artes Dramáticas, a Escola de Enfermagem Bliss e diversos centros de saúde e bibliotecas, assim como o Farol de Fort George. Apropriadamente, é ao lado do farol, iluminada pela sua luz, que se situa a sepultura do último Barão de Bliss Barreto, navegador, aventureiro e generoso filantropo, que, pela sua vida e postura, fez jus à sua herança portuguesa e ibérica. O povo de Belize não olvidou o seu benfeitor, sendo hoje 9 de Março o Dia Barão de Bliss, e feriado nacional naquele país mesoamericano.

Assim, o presente retorna ao passado dos Bliss Barreto pela pessoa de Joe Barreto, o qual, pelos enigmáticos e complexos ditames do destino, descobriu partilhar com um seu antepassado britânico, na fortuna e na desventura, as mesmas mazelas físicas, o mesmo amor pelo mar e pelos barcos, e, acima de tudo, o amor ao próximo!

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Henry Edward Ernest Victor, o último Barão de Bliss Barreto

O túmulo do último Barão de Bliss Barreto em Belize.

Dizeres no túmulo do Barão de Bliss Barreto:

In memory of Henry Edward Ernest Victor Bliss J.P. Of Marlow in the county of Buckingham, England.
4th Baron Bliss of the Former Kingdom of Portugal.
Born 16th February 1869, Died 9th March 1926 on board his yacht "Sea King" R.Y.S. in Belize Harbour.
A generous benefactor of this colony.

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